Pedro Côrtes
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Pedro Côrtes

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

Dengue: incidência elevada de casos preocupa

Região Sudeste concentra o maior número de casos este ano, seguida do Centro-Oeste

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Com mais de 1,4 milhão de casos prováveis registrados até agora, a dengue reafirma seu protagonismo entre os principais desafios de saúde pública de 2025.

O Sudeste é, mais uma vez, o epicentro da epidemia, seguido do Centro-Oeste. São Paulo lidera em números absolutos, com mais de 800 mil casos — cenário que expõe não só a força do vírus, mas também as vulnerabilidades urbanas que alimentam sua propagação.

Elaborado a partir de dados do Ministério da Saúde compilados pela pesquisadora Maryly Weyll Sant'anna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP • Reprodução
Elaborado a partir de dados do Ministério da Saúde compilados pela pesquisadora Maryly Weyll Sant'anna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP • Reprodução

Dados do de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde mostram que, além de São Paulo, estados como Minas Gerais (153 mil casos) e Paraná (115 mil) também enfrentam situações críticas. E o problema não se limita ao volume de registros: a gravidade dos casos também preocupa. Só em São Paulo, já foram notificados mais de 15 mil casos graves ou com sinais de alarme. Paraná e Goiás vêm em seguida, com mais de 3 mil e 2,5 mil casos graves, respectivamente.

Condições Climáticas

Embora o fenômeno El Niño seja mais frequentemente associado ao aumento de infecções — por provocar temperaturas mais altas e mais chuvas no Sul e Sudeste, o atual momento climático é de neutralidade, com sinais de transição para La Niña no final do ano. Mesmo diante dessa situação, os números seguem elevados. Isso reforça o que já se observou em anos anteriores: o clima influencia, mas não explica tudo. Há cepas do vírus com maior capacidade de transmissão e um vetor, o Aedes aegypti, cada vez mais adaptado ao ambiente urbano.

O combate à dengue exige muito mais do que ações emergenciais. É preciso insistir na prevenção cotidiana: eliminar água parada, tampar reservatórios, manter calhas limpas, trocar a água de animais, usar telas e repelentes. Ações comunitárias e políticas públicas integradas são essenciais. O que se vê hoje é reflexo de uma negligência acumulada, que se repete ano após ano.

Faltando poucos meses para o início da primavera — quando os casos voltam historicamente a crescer —, o Brasil tem uma chance: romper o ciclo da sazonalidade e tratar a dengue como o problema permanente que ela já se tornou.

Mais do que uma emergência sanitária recorrente, a dengue revela fragilidades estruturais que vão da gestão urbana à comunicação em saúde. Ignorar os alertas climáticos, biológicos e sociais que se acumulam a cada ciclo epidêmico é insistir em uma lógica de resposta tardia e paliativa. É hora de transformar previsibilidade em prevenção — e a repetição anual de surtos em um ponto de virada na política pública de saúde ambiental.

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