Formulada pelo filósofo sueco Nick Bostrom, a hipótese da simulação propõe que nossa realidade percebida seja uma simulação computacional ultrassofisticada, criada por civilizações tecnologicamente superiores. A proposição analisa implicações lógicas e probabilísticas dessa possibilidade.
No entanto, uma especulação filosófica só se torna cientificamente relevante se puder, ao menos em princípio, gerar previsões diferentes das teorias atuais, que possam ser confrontadas com observações ou experimentos. Alguns adeptos da hipótese tentam construir essa ponte entre filosofia e ciência comprovada.
Em um artigo publicado recentemente na AIP Advances, o físico Melvin Vopson, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, propõe que a força gravitacional não seja apenas uma propriedade fundamental do espaço-tempo, mas o resultado de operações computacionais no tecido do próprio universo.
“Assim como os computadores tentam economizar espaço e funcionar com mais eficiência, o universo pode estar fazendo o mesmo. É uma nova maneira de pensar sobre a gravidade — não apenas como uma atração, mas como algo que acontece quando o universo está tentando se manter organizado, diz Vopson.
Em uma pesquisa publicada previamente, Vopson desenvolveu a teoria de que informação possui massa física. Para ele, as partículas elementares armazenam dados sobre suas próprias características, de modo parecido ao que ocorre nas células biológicas, que contêm o DNA.
Na pesquisa atual, o físico vai além, e demonstra uma “pixelização espacial”, na qual células elementares atuam como unidade de armazenamento digital. Assim, cada célula usada na construção simulada do espaço-tempo pode registrar “0”, se estiver vazia, ou um “1” digital, se houver matéria presente.
Em um comunicado da Universidade de Portsmouth, Vopson explica: “O processo é idêntico ao modo como um jogo de computador digital, uma aplicação de realidade virtual ou outra simulação avançada seria projetada”.
Nesse modelo, o espaço-tempo não é contínuo, mas sim discreto, semelhante a uma pixelização ou uma malha de Análise de Elementos Finitos (FEA). Ou seja, a gravidade atuaria no sentido de reduzir localmente a entropia (desordem) da informação, enquanto a entropia total do Universo continua aumentando.
Conforme Vopson, a gravidade pode ser o resultado de processos de compressão ou reorganização da informação na malha. Isso é muito parecido com o que fazemos hoje como arquivos digitais: eliminamos redundâncias, reduzimos entropia informacional, mas não a entropia física do sistema.
Ao contrário da 2ª Lei da Termodinâmica, que afirma que a entropia de qualquer sistema permanece constante ou aumenta com o tempo, a 2ª Lei da Infodinâmica, postulada por Vopson “exige que a entropia da informação diminua, requerendo menos poder computacional e menos armazenamento de dados".
Nesse sentido, a atração gravitacional é um exemplo de regras computacionais que buscam minimização do conteúdo informacional e redução do poder de processamento. Computacionalmente, é mais eficiente rastrear um único objeto do que múltiplos separados.
Essa ideia — de que a gravidade é um efeito emergente para reduzir a entropia informacional do universo — introduz diferenças radicais na forma como a compreendemos. De forma fundamental do Universo a padrões eficientes de armazenamento e processamento de dados cósmicos.
Se verdadeiras, as implicações do estudo de Vopson abalariam as bases da física fundamental, com direito a reformulação da termodinâmica de buracos negros, matéria escura, energia escura e conexões com teoria da informação quântica. Mas a questão permanece: o Universo é ou não uma construção computacional?
De Darrien, nos EUA, onde mora com seu gato, Vopson afirma, no comunicado: "Temos o dever público de publicar resultados, publicar ideias, trazê-las ao domínio público para que possamos debatê-las, para que possamos refutá-las. Caso contrário, não faremos nenhum progresso", conclui.