As inovações incluem nova terapia-alvo, novas medicações que aumentaram a sobrevida livre de progressão e reduziram o risco de recidiva ou morte, além de novas descobertas sobre prevenção e cuidados paliativos.
A seguir, a CNN reúne e explica alguns dos principais destaques apresentados na ASCO 2024. Confira:
Um destaque da ASCO foi um novo estudo sobre a adoção do osimertinib, uma medicação que atua no receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), no tratamento de câncer de pulmão em estágio 3. Trata-se de uma terapia-alvo que mostrou resultados promissores para a sobrevida de pacientes com mutação no gene EGFR.
“Esses pacientes faziam habitualmente quimioterapia e radioterapia, mas agora temos no horizonte um estudo mostrando que para pacientes com mutação no gene EGFR, a terapia-alvo também melhora a eficácia do tratamento”, explica William Nassib William Jr., líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas.
O estudo, chamado LAURA, é de fase 3 e envolveu 216 pacientes em 17 países, divididos aleatoriamente para receber osimertinib ou placebo. “O osimertinib demonstrou uma melhoria estatisticamente significativa e clinicamente relevante nas taxas de sobrevida livre de doença,” afirmou o autor principal da análise, Suresh S. Ramalingam, da Emory University School of Medicine, de Atlanta (EUA), destacando que o tratamento deve se tornar o novo padrão de cuidado para casos com mutação EGFR nesta fase.
"O benefício foi consistente em todos os subgrupos predefinidos, incluindo sexo, idade, histórico de tabagismo e estágio do câncer. Os resultados do LAURA redefinem o paradigma de tratamento, demonstrando que o osimertinib supera significativamente a imunoterapia para pacientes com mutação EGFR, estabelecendo um novo padrão de cuidado", diz William Jr.
O câncer de pulmão, especialmente em estágio avançado, apresenta um desafio para a oncologia. Cerca de 90% dos casos em estágio 3 são considerados irressecáveis (não cirúrgicos). Anteriormente, a imunoterapia era a opção padrão para esses pacientes, mas agora, eles podem se beneficiar de um tratamento oral específico, personalizado e com um perfil de toxicidade mais favorável.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Dados mundiais mostram que de 5 a 10% dos casos desse tipo de tumor têm causa genética herdada, sendo metade deles relacionado aos genes BRCA1 e BRCA2.
Um novo estudo, apresentado na ASCO, avaliou a prevalência de variantes patogênicas e de significado incerto em gentes de alta e moderada penetrância. O trabalho foi realizado com pacientes com câncer de mama que realizaram genético no laboratório Oncoclínicas Medicina de Precisão. Foram analisados, no total, 2.208 pacientes, sendo 90% do gênero feminino, com uma idade mediana de 47 anos.
"Essa é o maior corte de dados brasileiros nesse cenário. A prevalência de variantes patogênicas (mutações) em genes de alta e moderada penetrância para câncer de mama foi de 10%, sendo 6% em BRCA1 e 2 e 40% em genes adicionais", destaca Leandro Jonata, oncologista da Oncoclínicas e principal autor do estudo.
Os achados indicam ainda que a taxa de mutações foi maior em pacientes abaixo dos 50 anos (12%) e com câncer de mama triplo negativo (14%). Segundo os pesquisadores, os principais genes com variantes patogênicas foram BRCA2, BRCA1, TP53 e PALB2. Já a variante R337H correspondeu a 80% das variantes no gene TP53. A prevalência de variantes de significado incerto foi de 20%, sendo ATM, NF1, BRCA2 e CHEK2 os principais genes associados, segundo Jonata.
Um tratamento inovador contra o câncer de pênis se mostrou eficaz na redução do volume do tumor em casos avançados. A descoberta é de um estudo brasileiro apresentado na ASCO, que mostrou que 75% dos pacientes tiveram redução em algum grau do tumor após combinarem imunoterapia à quimioterapia tradicional.
O estudo, chamado HERCULES – LACOG 0218, buscou avaliar a eficácia e a segurança da imunoterapia associada à quimioterapia tradicional como terapia de primeira linha para o tratamento do câncer de pênis avançado.
Para isso, 33 pacientes foram acompanhados durante o período da pesquisa, que começou em 2020. Os participantes foram submetidos à imunoterapia e à quimioterapia por 6 aplicações, seguido de imunoterapia até completar 34 aplicações. Eles realizaram exames de imagem a cada 6 semanas.
O estudo mostrou que 75% dos pacientes tiveram algum grau de redução do volume tumoral e que 39,4% deles apresentaram redução significativa. Além disso, dois marcadores foram identificados por meio de exames nas amostras tumorais dos pacientes: o P16 e o TMB, potenciais preditores de melhor resposta ao tratamento.
“Os resultados não são apenas uma vitória para a ciência brasileira, mas também uma prova de que a pesquisa clínica pode e deve olhar para as populações mais vulneráveis”, comenta Fernando Maluf, médico oncologista e líder do estudo.
Um estudo mostrou que a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), uma das principais formas de prevenção contra o câncer de colo de útero e de pênis, também é eficaz na proteção contra outros tipos de câncer.
De acordo com Jefferson DeKlow, autor principal do estudo pela Universidade Thomas Jefferson, a pesquisa "soma um conjunto crescente de evidências que demonstram a diminuição das taxas de câncer relacionadas ao HPV entre pessoas que receberam o imunizante". Novos dados mostram que, principalmente nos homens, o imunizante é eficaz na prevenção do câncer de cabeça e pescoço. Além disso, pode atuar em casos de câncer anal, de vagina e de vulva.
O estudo contou com a análise de 5.458.987 pacientes, dos quais 949.249 deles foram vacinados contra o HPV. Os achados no estudo mostraram que 760.540 homens vacinados contra o HPV tiveram uma menor probabilidade de desenvolver tumores relacionados ao vírus, principalmente de cabeça e pescoço. Já as mulheres imunizadas, representando 945.999, apresentaram uma menor chance de desenvolver câncer cervical e tumores relacionados ao HPV no geral.
“No Brasil, a tetravalente contra o HPV, que está disponível gratuitamente para meninas e meninos de 9 a 14 anos, e para adultos imunossuprimidos até 45 anos, protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus, os principais causadores do câncer do colo do útero. É preocupante para todos ver esse tipo de tumor avançando quando sabemos que ele é altamente prevenível”, comenta Marcela Bonalumi, oncologista da Oncoclínicas&Co.
Um estudo, realizado por pesquisadores de diversas instituições da Austrália e dos Países Baixos, demonstrou que o uso de dois ciclos de imunoterapia combinada, antes da cirurgia, pode aumentar a chance de cura de pacientes com melanoma avançado, diminuindo o risco de ressurgimento do tumor.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores fizeram um estudo randomizado com 423 pacientes, divididos em dois grupos: o grupo controle recebeu o tratamento convencional (cirurgia primeiro + nivolumabe por 12 meses) e a outra metade recebeu o tratamento neoadjuvante, com dois ciclos de imunoterapia combinada (nivolumabe e ipilimumabe por seis semanas) e depois a cirurgia.
Os resultados mostraram que 60% dos pacientes do grupo que recebeu dois ciclos de imunoterapia pré-operatória tiveram uma resposta patológica completa ou maior, ou seja, mais de 90% do tumor foi eliminado – o que é considerado praticamente uma cura pelos especialistas. Os outros 40%, que não alcançaram essa resposta, puderam continuar com a imunoterapia no pós-operatório para complementar.
O estudo também demonstrou que o risco de recidiva é 70% menor entre os que receberam a imunoterapia pré-operatória, em comparação com os que fizeram o tratamento-padrão.
Um estudo mostrou que consultas remotas de cuidados paliativos são tão eficazes quanto as presenciais na manutenção da qualidade de vida de pacientes com câncer de pulmão avançado. O trabalho envolveu 1.250 pacientes recentemente diagnosticados com a doença, que tiveram sessões de cuidados paliativos a cada quatro semanas. Uma parte foi designada aleatoriamente para consultas em vídeo e outra para as consultas presenciais.
As sessões abordaram sintomas físicos e psicológicos, enfrentamento, compreensão da doença, preferências de cuidados e decisões de tratamento. Segundo o estudo, após 24 semanas, as pontuações de qualidade de vida dos pacientes foram estatisticamente equivalentes entre os grupos de telessaúde e presencial (99,67 e 97,67, respectivamente, em uma escala de 0 a 136 pontos).
“A telessaúde tem o potencial de reduzir substancialmente a carga sobre os pacientes, os médicos e os recursos de saúde, ao mesmo tempo que mantém a qualidade dos cuidados. Nossas descobertas destacam a necessidade crítica dos sistemas de saúde e dos legisladores adotarem a telessaúde de forma mais ampla em padrões de cuidados paliativos baseados em evidências”, diz o autor principal do estudo, Joseph Greer, codiretor do Programa de Pesquisa e Educação sobre Resultados do Câncer no Massachusetts General Hospital, em comunicado à imprensa.