Os dados foram registrados por estudo apresentado na terça-feira (3) na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) de 2025. O artigo também foi publicado simultaneamente no The Journal of Clinical Oncology.

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"Estas novas evidências demonstram como uma única infusão de Carvykti pode ajudar os pacientes a sobreviver sem progressão da doença por muito mais tempo do que se pensava ser possível neste cenário, e sem qualquer manutenção ou tratamento subsequente", afirma Peter M. Voorhees, professor clínico de Hematologia e Oncologia da Universidade Wake Forest, em comunicado. "Em uma população com tratamento prévio intensivo, um terço dos pacientes permaneceu livre de tratamento e progressão por pelo menos cinco anos."

O mieloma múltiplo é um câncer de sangue incurável que afeta um tipo de célula presente na medula óssea chamado plasmócito, responsável pela produção de anticorpos que combatem patógenos como vírus e bactérias. Na doença, os plasmócitos se multiplicam rapidamente, comprometendo a produção das outras células do sangue.

Atualmente, as opções de tratamento para o mieloma múltiplo incluem a quimioterapia, podendo ser seguida pelo transplante de medula óssea. A radioterapia pode ser indicada em pacientes que tiveram os ossos danificados pela doença, de acordo com o A.C. Camargo Cancer Center.

Como funciona a imunoterapia?

O Carvykti, imunoterapia desenvolvida pela Johnson&Johnson, é um tratamento para adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, ou seja, que não diminuiu mesmo após terapias anteriores. O medicamento foi aprovado pela Food and Drug istration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, em 2022. No Brasil, a Agência Sanitária de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da terapia no mesmo ano.

O medicamento é uma imunoterapia de células T autólogas geneticamente modificadas para reconhecer o câncer e destruí-lo. Nesse tipo de terapia, as próprias células do paciente são modificadas para combater o tumor. Esse tipo de terapia gênica é chamado de CAR-T.

No ensaio clínico apresentado na Asco, o CARTITUDE-1, a terapia foi avaliada em adultos com mieloma múltiplo recidivado e/ou refratário. Do total de participantes, 99% eram refratários à última linha de tratamento; 88% eram refratários de classe tripla (o que significa que o câncer não respondeu mais a um agente imunomodulador, um inibidor de proteassoma ou anticorpo anti-CD38).

O objetivo principal do estudo, envolvendo 97 pacientes, foi caracterizar a segurança e confirmar a dose de cilta-cel (como a terapia também é chamada). O trabalho mostrou que 33% dos pacientes alcançaram sobrevida livre de progressão da doença de cinco anos ou mais com uma única infusão do medicamento e nenhuma terapia de manutenção ou subsequente.

Para Angelo Maiolino, professor de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que não esteve envolvido no estudo, os resultados do trabalho indicam "um grande salto no tratamento" de pacientes com mieloma múltiplo recidivado.

"São dados de um segmento mais prolongado. Isso é muito importante em onco-hematologia. Quando avançamos para um segmento mais prolongado e vemos que os dados publicados em um estudo preliminar se confirmaram e de forma clara, com 33% dos pacientes livres de progressão, incluindo pacientes com alto risco, realmente é um marco que temos que valorizar bastante", afirmou Maiolino em coletiva de imprensa realizada virtualmente na terça-feira (3), na qual a CNN esteve presente.

Atualmente, o Carvykti está disponível apenas na rede privada no Brasil.

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