Um dos grandes desafios do câncer de intestino é o combate aos principais fatores de risco, que estão associado a estilo de vida. "Dieta desbalanceada, sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool... É um padrão comportamental. É por isso que a gente fala que a gente tem uma dificuldade maior de ter ações preventivas", afirma Samuel Aguiar, cirurgião oncológico do Hospital A.C. Camargo. Ele e o oncologista Óren Smaletz, do Hospital Israelita Albert Einstein, são os convidados desta semana do Dr. Kalil.
De acordo com o especialista, a incidência de câncer de intestino tem caído nos Estados Unidos e em países da Europa, mas em uma faixa etária específica, que é alvo das ações preventivas: acima dos 50 anos.
"Ao contrário, na faixa etária que não é alvo de ações preventivas e que nunca ninguém imaginava que pudesse ser, que é de 49 anos para baixo, tem crescido. A gente começa a ver casos hoje em pessoas com 25, 30 anos, coisa que nunca se imaginava antes, mas que começa a aparecer com alguma frequência e que não é baixa mais", analisa Aguiar.
Segundo os especialistas, embora haja fatores de risco genéticos ou relacionados a outros problemas de saúde, há uma grande influência em fatores de risco "evitáveis" e ligados ao estilo de vida na ocorrência de câncer de intestino.
“A gente sabe que o câncer colorretal está relacionado com sedentarismo, com obesidade, tabagismo. Cerca de 15% dos cânceres colorretais têm como fator de risco puramente o tabagismo. O álcool em excesso, as dietas também”, explica Smaletz. “Dietas ricas em fibras, em cálcio, pouca gordura, pouca carne e ultraprocessados são dietas que realmente protegem contra o câncer colorretal”.
Estes fatores, porém, já são bastante conhecidos por aumentar o risco da doença em pessoas acima de 50 anos. Mas o que explica o crescimento entre indivíduos jovens? “Essa é uma pergunta que as mais importantes e poderosas agências de pesquisa em câncer do mundo estão atrás da resposta: o que está causando a antecipação da faixa etária? Não existe uma resposta muito clara. A hipótese mais plausível é de que os mesmos fatores de risco, esses hábitos de vida estariam se antecipando para crianças e adolescentes”, explica Aguiar.
“Há aquela expressão que diz que deveríamos abrir menos embalagens e descascar mais aquilo que vamos comer”, afirma Smaletz, destacando a importância de refeições mais baseadas em fibras e alimentos frescos.
Por outro lado, os especialistas destacam que existe um desafio socioeconômico envolvido nesta questão. "Hoje, o que chamamos de dieta saudável é muito cara para a população brasileira. É muito mais barato você comprar um embutido, para uma família de baixa renda", avalia Aguiar.
Outra barreira enfrentada para a prevenção do câncer de intestino, segundo os especialistas, são os próprios exames preventivos.
"A colonoscopia seria o padrão ouro em um cenário ideal, onde todo mundo conseguisse fazer. Porém, não é o que a gente tem, nem no Brasil, nem na Europa, nem nos Estados Unidos. Na Europa, por exemplo, a taxa de adesão aos programas de rastreamento com colonoscopia não chega a 40%", afirma Samuel. "É um exame complexo, porque você tem um preparo de intestino, tem sedação para fazer. Em faixas etárias economicamente ativas, você perde dois dias de trabalho", explica.
Mas há alternativa. O exame de sangue oculto nas fezes é uma opção mais barata, mais rápida e ível que permite a triagem de quem realmente precisa ser encaminhado para a colonoscopia.
“Uma pesquisa de sangue oculto nas fezes detecta traços de sangue não visíveis a olho nu. Se ela vem positiva, não significa que aquela pessoa tenha câncer, só significa que ela tem que fazer uma colonoscopia”, finaliza Samuel.
O “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” vai ao ar no sábado, 07 de junho, às 19h30, na CNN Brasil.