Auxiliares do procurador-geral da República, Paulo Gonet, dizem que uma das hipóteses na mesa é a convocação do senador para esclarecer os assuntos que foram tratados durante o telefonema.
Outra possibilidade, na leitura desses interlocutores, é deixar a pergunta para o momento do interrogatório dos réus, quando o próprio Bolsonaro poderá se manifestar a respeito do que ambos conversaram.
De acordo com o portal Metrópoles, Bolsonaro procurou Mourão para pedir que o senador reforçasse, no depoimento ao STF, alguns pontos que o ex-presidente considerava relevantes para a sua defesa.
À CNN, Mourão confirmou a ligação. “Falamos na véspera sobre os pontos fortes a serem abordados: transição e 8 de janeiro”, disse. Depois, porém, o senador disse que eles falaram apenas sobre o estado de saúde de Bolsonaro.
Embora o ex-presidente e Mourão não estejam proibidos de manter contato, o telefonema causou estranheza entre ministros do Supremo. Contudo, para eles, cabe à PGR definir as medidas que podem ser adotadas daqui para frente.
No entorno de Gonet, a dúvida é em que medida a iniciativa de Bolsonaro teve ou não o objetivo de convencer Mourão a dar uma determinada versão dos fatos sobre a investigação da trama golpista.
Inicialmente, fontes da PGR não viram indícios do crime de coação de testemunha, pois esse delito exigiria uma situação de ameaça ou intimidação, o que não parece ter ocorrido no caso.
Porém, a legislação brasileira prevê de três a oito anos de prisão a “quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”. Essa poderia ser uma brecha para investigar a conduta de Bolsonaro.
Mourão foi indicado como testemunha pelas defesas de Bolsonaro e dos ex-ministros Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, todos réus do “núcleo 1” da investigação sobre a tentativa de golpe.
Procurado, Bolsonaro não respondeu à CNN.