Paulo Cupertino durante depoimento no Tribunal do Júri, na última quinta-feira (29). • Reprodução
Condenado a 98 anos de prisão, Paulo Cupertino foi sentenciado pelo Tribunal do Juri, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, no fim da noite da última sexta-feira (30). A decisão ocorre 6 anos após o crime.
Cupertino prestou depoimento por mais de duas horas diante dos 7 jurados que decidiram sobre a culpa do empresário nas mortes do ator Rafael Miguel e os pais do jovem.
O crime ocorreu em 9 de julho de 2019, quando Rafael, Miriam e João foram assassinados em frente a casa e comércio de Paulo Cupertino. As mortes foram atribuídas ao empresário por não aceitar o relacionamento de Rafael com a filha dele.
Durante o depoimento, no que foi considerado um "ato falho", Paulo Cupertino afirmou que "não matou mais ninguém" durante os quase três anos em que esteve foragido.
"Praticamente 3 anos eu fiquei andarilhando, comendo cocô de cavalo, por medo, não matei mais ninguém", diz Cupertino.
Esta afirmação se alinha com sua defesa central apresentada ao longo de todo o depoimento, onde ele nega repetidamente ser o autor dos homicídios de Rafael, Miriam, e João.
"Não tive no meio de crime organizado, não fui pro lado da facção que era do lado do Paraguai, como falaram, entendeu?", também negando qualquer envolvimento com o crime organizado ou com facções criminosas, especialmente as que operam perto da fronteira com o Paraguai.
Ele contrasta essa negação com a narrativa que teria sido criada sobre sua fuga, que ele descreve como uma "cambada de incompetente" ao analisar o trabalho dos investigadores. Cupertino afirma que foi preso a 2 km do local dos fatos sem reagir, e que comeu esfiha e tomando água mineral, com os agentes que efetuaram sua prisão.
O promotor de Justiça Thiago Marin, em sua sustentação aos jurados, foi enfático ao criticar a postura e alegações do réu. "Ontem ele teve a coragem de vir aqui e nos desafiar a provarmos que foi ele que atirou. Ontem ele veio aqui e teve a coragem de dizer que é inocente", disse.
Durante interrogatório, no momento em que ele aborda a forma como foi tratado e retratado pelas autoridades e pela mídia, ele reage ao fato de ter sido incluído na lista da Interpol.
Ele questiona a acusação de que teria ido para o Paraguai, ele declara enfaticamente: "Primeiro lugar, nunca fui traficante". É imediatamente após essa negação do tráfico que ele profere a frase "meu artigo sempre foi outro", explicando que "nunca foi tráfico", referindo-se ao seu histórico criminal.
Ele menciona ter sido preso em 92 e absolvido por três vezes. E diz que prefere ser julgado por sua "personalidade", mesmo que considerada "chata" ou "bruta", do que ser condenado por um crime que ele nega ter cometido e que, em sua visão, não se alinha com o ado de outros "artigos".
"O artigo dele é o 121, é o homicídio, é o assassinato. Ele não é traficante, ele é assassino!", ressaltou o promotor Thiago em sua argumentação ao júri.
Sobre o momento dos fatos, ele explica aos jurados que se omitiu e que poderia ter confrontado o "vagabundo" no qual ele aponta ser um dos responsáveis pelo triplo homicídio.
Na sequência diz que poderia ter dito "aqui não, aqui é minha família, aqui não, aqui é meus conhecidos" ao refletir sobre os eventos do dia dos fatos.
Ele descreve isso como uma hipotética confrontação onde ele colocaria a mão no peito do agressor e diria essa frase, significando que o agressor não deveria se intrometer ali porque era seu "território", sua família e seus conhecidos.
Cupertino afirma que teria tido "força suficiente" para fazer isso, mas se considera omisso e reconhece que errou ao não intervir no momento. Ele lamenta não ter evitado a situação.
Durante o interrogatório final, enquanto reflete sobre a situação na prisão e os eventos que levaram ao processo, Cupertino menciona que não precisa pedir perdão e ao abordar seus sentimentos na prisão, ele declara explicitamente a ausência de pesadelos e sonhos relacionados aos crimes imputados a ele.
Paulo Cupertino afirma que não tem arrependimento "nesse sentido" porque não lhe vêm à mente imagens de ter matado Rafael, a senhora Miriam ou o senhor João.
Ele estabelece um contraste direto, explicando que as imagens que o perturbam são as de sua mãe morrendo - sem ele poder estar perto - e a perda dos seus filhos, em particular Isabela, por quem declarou amor.
Por outro lado, a acusação reiterou as críticas ao caráter de Cupertino ao não se desculpar com a família das vítimas. "ou anos foragido, mudou de nome, mudou de rosto, só não mudou o caráter. Porque o caráter se revela na hora da responsabilidade. E ontem ele veio aqui e teve a coragem de falar que não deve desculpas à família da vítima, porque não foi ele que matou", afirmou o promotor Thiago.
"Verdadeiro culpado vai pagar pelo que fez", diz filha de Paulo Cupertino
Em um dos momentos no Tribunal do Juri, Cupertino tenta uma aproximação com o juiz Antonio Carlos Pontes, quando lembrou da primeira formação do julgamento, em outubro de 2024.
Cupertino se dirige ao magistrado para dizer que "chegou no presídio" em Presidente Venceslau, cerca de 600 quilômetros do local do julgamento, uma fala atribuída ao juiz no primeiro encontro no tribunal.
"Falaram até que eu fiz xixi na sua frente", disse Cupertino em tom de brincadeira.
Na sequência, Cupertino indaga sobre a suposta declaração e se refere a toga, utilizado pelos representantes da justiça, como "capa do Batman", dizendo "foi muito bem tratado" pelo magistrado.
O magistrado imediatamente nega e rebate dizendo "não disse nada". Na ocasião, o julgamento foi suspenso depois que Cupertino, na época acusado, destituiu a defesa no meio do plenário, por quebra de confiança.