Ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Michelle abriu o evento voltado às mulheres do partido. Apesar do simbolismo político, nenhuma menção direta foi feita a sua possível candidatura presidencial. A exceção ficou por conta do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes (PL-RJ), que declarou: “Se Deus quiser vamos conquistar a Presidência da República. Michelle, Deus tem muito para sua vida”.
A fala ocorre em meio à divulgação de uma série de pesquisas que mostram Michelle competitiva em um eventual embate com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No último levantamento da Genial/Quaest, divulgado na terça-feira (4), ela aparece com 39% das intenções de voto, atrás de Lula (43%) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (41%), empatado tecnicamente com o petista.
Apesar dos números promissores, a cúpula do PL resiste à ideia de lançar Michelle como cabeça de chapa. Lideranças do partido ouvidas pela CNN apontam que, embora carismática e popular, ela ainda não demonstrou preparo político suficiente para liderar uma campanha nacional e governar o país. Avalia-se que ela seria vulnerável a erros estratégicos e teria dificuldades de articulação com setores fundamentais, como o Centrão.
Outros obstáculos são de ordem pessoal e familiar. Michelle não tem uma atuação regular na imprensa e evita entrevistas, o que limita sua visibilidade pública fora do círculo bolsonarista. Também pesam questões internas da família Bolsonaro. Fontes do entorno político relatam que Jair Bolsonaro não veria com bons olhos a possibilidade de sua esposa ocupar um espaço político superior ao seu. Além disso, os filhos do ex-presidente, especialmente Eduardo e Carlos Bolsonaro, mantêm relações políticas distantes ou conflitantes com Michelle.
Há ainda críticas da militância mais ideológica, que cobra uma postura mais clara da ex-primeira-dama em relação à agenda bolsonarista, incluindo temas como a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para esse grupo, a neutralidade de Michelle em questões-chave seria um sinal de distanciamento.
Diante desse cenário, o caminho mais provável seria uma candidatura ao Senado pelo Distrito Federal ou uma composição como vice em uma chapa encabeçada por outro nome da direita, como Tarcísio de Freitas. Ainda assim, parte do PL acredita que Michelle reúne qualidades únicas para enfrentar Lula: mulher, evangélica, jovem, carismática, de origem popular — ela nasceu e cresceu em Ceilândia, na periferia de Brasília —, além de seu envolvimento com causas sociais, como o apoio a pessoas com deficiência e doenças raras.
Aliados próximos afirmam que Michelle tem se preparado discretamente para uma eventual candidatura desde 2018, estudando política, economia e temas ligados ao conservadorismo. Ela também vem se aproximando da base partidária que deve sustentar a candidatura da oposição em 2026 — PL, PP e Republicanos. Não por acaso, além do evento de hoje, Michelle já liderou encontros semelhantes organizados por essas outras siglas.
Enquanto as articulações se intensificam nos bastidores, uma máxima prevalece entre seus apoiadores: os números falarão mais alto. E, se o desempenho nas pesquisas continuar favorável, o PL pode acabar sendo convencido de que Michelle Bolsonaro é, de fato, o nome mais competitivo da direita para a disputa presidencial de 2026.